É tão irónico quando estamos num País quente e ficamos constipados ao nível máximo, em que as duas narinas ficam completamente entupidas e torna-se impossível dormir sem ter a vontade de arrancar o nariz.
Pois bem, esta última semana foi um terror para mim. Inicialmente tive dores de garganta, depois fiquei com tosse e como se não bastasse fiquei tão constipada que só me apetecia ficar na cama a hibernar durante duas semanas.
E pioooor, pensamos sempre que é o raio do Zika! Ficamos sempre em modo alerta. Mas após umas receitas caseirinhas como chá de cebola e xarope de cenoura a mando da Dona Mãe, fiquei novamente saudável. E tinha de ficar porque, por momentos pensei que ia ser expulsa de casa pelos meus colegas devido à minha irritante tosse constante.
Portanto, este fim-de-semana não fiz nada. Apanhei sol, foi a única coisa que fiz. Estar de papo para cima e ir dar uns mergulhos ao mar. Esteve imenso calor, aquele calor que até dá dores de cabeça! E por favor, não digam "ai que sorte, aqui está a chover". Vocês venham para aqui que eu apoooosto que não aguentam mais do que um mês!
E então? Falem-me lá desse feriado na quinta-feira. Gostaram? Quando é o próximo?
Aqui é feriado na quarta-feira, TUMBAS! Sim, festejam o dia das crianças!! Podiam festejar o dia de Portugal já que são todos benfiquistas e estão todos a torcer por Portugal, mas não, bora lá festejar o dia das crianças. Tem lógica de certa forma...aqui tem imensas crianças!
Tenham uma boa semana e...já só faltam 12 semanas para matar saudades do meu País lindo e da minha cidade ainda mais bonita e florida! Mal posso por ir ao Bom Jesus, nunca pensei sentir tanta falta de florzinhas e verdinho a rodear-me!
Blog de uma estagiária ao abrigo do programa INOV Contacto que foi colocada em Cabo Verde e quer partilhar com todos as suas experiências num país muito diferente de Portugal.
segunda-feira, 30 de maio de 2016
sexta-feira, 20 de maio de 2016
#3 meses
Ontem fez 3 meses desde que cá chegamos. Passou meeeesmo rápido! Ainda ontem estávamos à procura de casa e agora já vamos a metade do estágio!
Tem sido a melhor experiência da minha vida, sem dúvida. Conheci pessoas excelentes e que mudam toda a experiência que estou a ter. Pessoas que contribuem para que os meus dias sejam os melhores dias!
Mas tenho saudades de tudo o que me rodeava quando estava no meu País. Tenho saudades de beber água pela torneira, saudades de poder andar descalça sem correr o risco de pisar a bicharada toda que anda lá para casa, saudades de andar tranquilamente nas ruas e ouvir música no telemóvel sem ter que estar preocupada com o perigo, saudades dos restaurantes portugueses, saudades dos portugueses com o nariz empinado que não dão bom dia de manhã, saudade de comer comida sem ter que me preocupar se a carne vai estar realmente boa e de onde veio, assim como a salada e peixe... saudade de ver flores e verdinho à minha volta, saudades de respirar o ar de Braga, saudades das noites portuguesas, saudades do frio e da chuva, saudades da minha casa e do meu cantinho, saudades de ver animais com donos e felizes, saudade de infraestruturas, saudades de guiar, saudades da condução portuguesa (aqui não há regras de trânsito; ou se há, ninguém respeita. Que ninguém queira conduzir em África, porque pelos vistos, em Angola também funciona assim (ou pior)).
Quando chegar a Portugal, não vou parar até matar saudades de tudo aquilo que sinto falta!!
Mas atenção! Eu adoro Cabo Verde. Digamos que sou uma pessoa mais citadina :)
Ps: Ontem marcamos viagem para a Ilha do Sal!! (invejaaaaa) Vamos do dia 10 até dia 12 de Junho e vamos ficar no Resort ClubHotel Riu Garopa, com tuuuudo incluído. Depois do esforço na Ilha do Fogo, temos de ter o merecido descanso, também merecemos!
Tenham um bom fim-de-semana! Beijinhooos
Tem sido a melhor experiência da minha vida, sem dúvida. Conheci pessoas excelentes e que mudam toda a experiência que estou a ter. Pessoas que contribuem para que os meus dias sejam os melhores dias!
Mas tenho saudades de tudo o que me rodeava quando estava no meu País. Tenho saudades de beber água pela torneira, saudades de poder andar descalça sem correr o risco de pisar a bicharada toda que anda lá para casa, saudades de andar tranquilamente nas ruas e ouvir música no telemóvel sem ter que estar preocupada com o perigo, saudades dos restaurantes portugueses, saudades dos portugueses com o nariz empinado que não dão bom dia de manhã, saudade de comer comida sem ter que me preocupar se a carne vai estar realmente boa e de onde veio, assim como a salada e peixe... saudade de ver flores e verdinho à minha volta, saudades de respirar o ar de Braga, saudades das noites portuguesas, saudades do frio e da chuva, saudades da minha casa e do meu cantinho, saudades de ver animais com donos e felizes, saudade de infraestruturas, saudades de guiar, saudades da condução portuguesa (aqui não há regras de trânsito; ou se há, ninguém respeita. Que ninguém queira conduzir em África, porque pelos vistos, em Angola também funciona assim (ou pior)).
Quando chegar a Portugal, não vou parar até matar saudades de tudo aquilo que sinto falta!!
Mas atenção! Eu adoro Cabo Verde. Digamos que sou uma pessoa mais citadina :)
Ps: Ontem marcamos viagem para a Ilha do Sal!! (invejaaaaa) Vamos do dia 10 até dia 12 de Junho e vamos ficar no Resort ClubHotel Riu Garopa, com tuuuudo incluído. Depois do esforço na Ilha do Fogo, temos de ter o merecido descanso, também merecemos!
Tenham um bom fim-de-semana! Beijinhooos
terça-feira, 17 de maio de 2016
#Ilha do Fogo
Na sexta-feira (13) partimos para a Ilha do Fogo, de barco! Tinham-nos pintado o pior cenário para esta ida de barco! Que íamos enjoar, que toda a gente no barco ia "virar o barco"... Estávamos com algum receio mas lá fomos (sem medicamentos para o enjoo!). De facto tinham razão! Foi uma viagem um bocado demorada e enjoativa. Mas nós somos fortes e nenhuma de nós "virou o barco". O barco tinha ótimas condições, televisão para distrair as pessoas (ainda que não evitasse que elas virassem o barco), música, etc. Ainda conseguimos ver golfinhos! Imensos golfinhos!! Estávamos à espera de ver baleias, mas não apareceram. Dizem que este ano está fraco no que diz respeito a baleias. A viagem durou um pouco mais que 4h, foi muito longa.
Quando saímos do barco, já só queria ver o vulcão! Mas já era de noite e lá não há muita luminosidade, inclusive na capital! Pessoas na rua? Uma ou outra... Fica tudo em casa!
Mal chegamos, fomos jantar e arranjar um quarto para dormir (sim, porque nós aventuramo-nos a ir para lá sem ter um quarto reservado. Fomos à malucas, pronto!). Mas a procura foi fácil e acabamos por ficar na Pousada da Bela Vista, na capital da ilha, São Filipe, terceira maior cidade de Cabo Verde.
Falando agora um bocado sobre esta ilha:
Inicialmente, esta ilha tinha o nome de São Filipe. Depois, devido a uma erupção de proporções devastadoras ficou designada como Ilha do Fogo.
De cor negra, quente e verde, a ilha que produziu, em tempos, algodão e café e, que a colocou nas rotas dos escravos, é agora terra do sabor e aroma únicos do vinho e do café.
Foi a segunda ilha a ser habitada e possui cerca de 40.000 habitantes.
A ilha do Fogo é composta por um vulcão ativo no meio do Atlântico cujo cume é o mais alto do arquipélago de Cabo Verde.
Dia 1:
Tínhamos decidido dar uma volta à ilha, por isso tínhamos já combinado com um taxista fazer uma tour pela ilha. Alugámos uma hyace e lá fomos. Estivemos primeiro a explorar a capital, São Filipe. É uma cidade mesmo bonita! Os edifícios são coloridos, as ruas estão limpas, há flores, consegue-se ver sempre o mar...é mesmo bonito!
Esta é a Igreja Matriz, um edifício de finais do século XIX, ao estilo colonial.
Fomos visitar o mercado da cidade, um sítio com bastante variedade, legumes, frutas, especiarias, carne, peixe, há de tudo.
Este
fruto é o caju. Quando me falavam em caju, sempre imaginei o caju que
há à venda em Portugal, o caju seco. Mas aqui come-se imenso o caju
deste tipo!
Depois de visitar o mercado, fomos visitar as salinas. Apesar de ser um sítio muito bonito, aquilo de salinas não tinha nada! Vi só um bocadinho de sal! Nada comparado com a ilha do Maio.
Isto é o bocadinho de sal que eu consegui ver!
Seguimos caminho e fomos espreitar as plantações de café! O café é símbolo e cartão de identidade da ilha, pelo seu aroma e sabor. Eu e a Sofia Lima, as únicas que consumimos café em casa, compramos um saco de café moído para comprovarmos a sua autenticidade!
Aquelas bolinhas pretas são as sementes do café!
Tem também imensas bananeiras (aquilo que eu preciso MUITO, neste momento)!
De seguida paramos no Alto da Aguadinha, miradouro com uma vista espetacular da cidade de São Filipe.
Seguimos para Chã das Caldeiras, onde íamos ficar a dormir esta noite.
Chã das Caldeiras é conhecida localmente por Tchã e é a cratera inicial do vulcão! Sim, nós ficamos a dormir na cratera do vulcão!! A cratera é rodeada de paredes que atingem os 1000 metros. A fotografia mostra a enooorme parede!
Assustador mas encantador ao mesmo tempo! Agora chamam de Caldeira e são cerca de 1200 as pessoas que habitam neste cenário inóspito! Está ainda em processo de reconstrução porque, desde a última erupção, em 2014, foram imensas as casas destruídas pela lava. Casas, pousadas, a agricultura...
A partir de uma determinada altura, já era possível ver o vulcão, o enoooorme e imponente vulcão!
O caminho para Chã das Caldeiras torna-se íngreme muito rápido, contornando maciços de lava até desembocar no silêncio arrebatador da cratera.
A fotografia abaixo mostra a entrada para o Parque Natural do Fogo, entrada para a cratera original. Eu nunca vi nada mais bonito! O vulcão como fundo, o silêncio, a cor preta que predomina em todo o caminho, apenas com as vinhas a contrastar. Acreditem, aquele vulcão mete respeito!!
A primeira pergunta que surgiu: "Como raio vamos subir até lá cima?"
Aqui estão algumas fotos do caminho até ao centro de Chã, onde nós íamos ficar hospedados. Na fotografia abaixo podem ver o verde das vinhas a contrastar, e como plano de fundo as paredes da cratera inicial do vulcão.
Estas fotografias mostram a lava e a areia vulcânica da última erupção.
Dentro da cratera está localizada a Adega, onde se produz o vinho, mais conhecido como “Manecon”. É um dos produtos mais exportados da ilha para o exterior de Cabo Verde. Eu comprei duas garrafas de vinho. Um tinto seco e um tinto doce, para levar para Portugal!
Outro vinho bastante conhecido e produzido também na Ilha do Fogo é o Vinho Chã. Este vinho já se consegue ver em quase todas as prateleiras de supermercados e mini-mercados de Cabo Verde (pelo menos na Ilha de Santiago), ao contrário do Manecon.
Continuamos caminho para o centro de Chã das Caldeiras. O senhor Sicílio ou Cecílio (perceber os nomes das pessoas em Cabo Verde é quase uma missão impossível. Se uma pessoa se chama Odesângelo (conheço uma pessoa que tem este nome), chama-se Ângelo que ninguém repara que falta ali o Ode! É assim que eu faço!) estava à nossa espera. Ficamos na casa dele durante uma noite dado que no dia seguinte íamos acordar às 5h15 para começar a subida para o vulcão às 6h.
Quando finalmente chegamos, fomos muito bem recebidos. Os foguenses são de facto pessoas muito acolhedoras e simpáticas! Instalámo-nos e pousamos as nossas coisas nos quartos e o Senhor Cecílio mostrou-nos as redondezas de Chã. Levou-nos a uma casa que tinha sido invadida por lava! Ficamos chocados e impressionados com a sua força e destruição.
Ao espreitar pela janela conseguíamos ver a lava que tinha invadido uma divisão da casa.
No centro do Chã dava para ver também as casas e a escola submersas pela lava. Só conseguíamos ver os tetos. É impressionante! Agora estão a tentar desobstruir algumas casas que foram invadidas por lava. Partem a lava (a que dá para partir, porque há dois tipos de lava) e tentam limpar a casa para as tornar novamente habitáveis, dado que muitas dessas casas eram também o negócio de muitos habitantes.
Depois de nos mostrar e explicar o centro do Chã, levou-nos a um mini-mercado/casa de um senhor que nos ofereceu vinho Manecon, uvas passas feitas por ele e queijo próprio da Ilha. Ficamos até à hora de jantar porque é costume juntarem-se lá alguns habitantes a cantar e tocar até escurecer.
Perto das 19h30 fomos jantar. A família do senhor Cecílio fez o jantar. Peixe Serra com molho de natas, batata e cenoura cozida e arroz. Estava tão boooom!
Depois de jantar estivemos a jogar às cartas e fomos dormir que o dia seguinte ia ser muito puxado!
Foi a primeira vez que fui obrigada a enfrentar uma situação...falta de água e energia. Tínhamos de andar com os telemóveis atrás de nós para nos vestirmos, para irmos à casa de banho, tudo! E a casa de banho? O meu dilema: Como funciona o autoclismo? Pois...não funciona cara Mariana. Tudo à antiga! Mas foi bom, foi muito bom viver um dia assim porque uma pessoa apercebe-se de imensa coisa, a nossa mentalidade muda automaticamente. Nós temos imensa sorte no país onde estamos. Nós vivemos à grande e à franceses! Nós temos tuuuudo no nosso cantinho!! Não nos podemos mesmo queixar, de nada!!
Dia 2:
Acordamos às 5h15 com as galinhas (ou até antes das galinhas). Tomamos um pequeno-almoço bastante completo, com café, sumo, pão, bananas (que eu não comi porque estava demasiado madura. E se calhar foi por isso que fui a única a ter cãibras) para ficarmos com energia!
O Isandro, o nosso guia salvador, veio-nos buscar e começamos a nossa caminhada. Todas felizes e entusiasmadas (mal sabíamos o que nos esperava).
Estão a ver a base do vulcão? Pronto, a subir nem é muito inclinado (é muito para mim). Mal comecei a subir (nem 10 minutos tinham passado), e eu já estava a perguntar se ainda ia demorar muito, e o guia olhou para mim com olhar de pena e respondeu "Ainda nem começamos a base do vulcão"!
É preciso uma excelente condição física para começar a base do vulcão porque eu não achei piada nenhuma àquela caminhada! Na foto abaixo mostra a minha alta condição física, dado que estava em primeiro lugar! Os restantes tinham ficado para trás! Não, estou a mentir, pronto. Era a última, ficava sempre para último, mas foi porque não tinha comido a banana e os outros comeram...
O guia era o único que esperava por mim...coitadinho, queria andar e estava sempre à espera que eu decidisse pôr o turbo (coisa que não aconteceu).
O terreno era assim até ao início da 'cabeça' do vulcão (que era uma cabeça muito grande, não é como nas fotografias). Neste terreno ainda conseguia tirar umas fotografias. Quando começaram a vir as rochas já não conseguia pensar na câmara nem em tirar fotografias.
Foi aqui, neste terreno, que dei a minha primeira queda! Pensava que ia morrer!!!! Mas fiquei bem, foi só o susto...que foi grande o suficiente ao ponto de ficar ainda mais para trás!
PS: Aqueles pontinhos brancos ali na fotografia são os tetos das casas submersas que mostrei numa outra fotografia mais acima! Para vocês verem a distância que já tinha percorrido!
A paisagem é lindíssima e as nuvens são de cortar a respiração, por dois motivos: por saber que estávamos a uma altitude estonteante e isso metia medo, e porque vimos as nuvens de cima, coisa que eu nunca tinha visto e sempre quis saber como era!
Na fotografia acima, já conseguem ver os rochedos (a 'cabeça' do vulcão) que nós tínhamos de escalar, e dá para ter uma noção da altitude a que nos encontrávamos! A inclinação começava a ser cada vez maior. E não, não íamos pendurados por cordas nem nada semelhante. Íamos ali desprotegidos, apenas com a esperança de chegarmos à cratera sãos e salvos!
Durante a subida, tive cãibras, sentia dores em todos os sítios, estava tão cansada que obrigava toda a gente a parar e a descansar comigo. Mas depois o meu corpo habituou-se à subida e já não foi tão difícil (exeto as cãibras que continuaram a chatear).
Entretanto começamos a 'escalada' naquelas rochas enormes! Como são rochas de origem vulcânica, algumas são leves e, por isso tínhamos de ter imenso cuidado onde colocávamos os pés porque aconteceu-me imensas vezes pôr os pés em pedras leves e elas deslocarem-se, o que fazia com que eu escorregasse e automaticamente pensava "ok, vou morrer agora".
Tenho-vos a dizer que o Isandro, "O Guia", foi um anjo! Nem sei onde é que ele arranjou tanta paciência. Sim, porque a Sofia Lima tem vertigens e quando a inclinação aumentou, o guia não me tinha só a mim para aturar. Tinha duas! Era a Sofia de um lado a dizer "Não fuja de mim, tem de estar à minha beira, não dê mais do que dois passos" e eu do outro lado a dizer "Isaaaandroooo! Preciso de ajuda! Como é que subiu para aí? Por onde é que tenho de ir?". O rapaz nem sabia quem havia de ajudar primeiro.
Eu não tenho vertigens, mas só de olhar para baixo dava-me ali um arrepio que nem sabia onde me meter! Por várias vezes pensei "ok, vão vocês que eu fico aqui à espera e depois mandam um helicóptero para me vir buscar", mas o guia estava tão empenhado em nos ajudar a subir que até me sentia mal se desistisse. Para além do mais, ele disse assim "São muitas as pessoas que desistem de subir, ficam a meio" e nós "o quêê? Pffff, que fracos, nós não vamos desistir, vamos ver aquela cratera!".
Nós rezamos, nós invocamos o Nosso Senhor, nós gritamos, nós dissemos palavrões, mas não desistimos, é isso que importa!
Depois de muuuuito esforço e dedicação, lá chegamos ao cimo do vulcão!
Foram 2829 metros de cansaço e muuuito suor!
Pronto, lá conseguimos chegar ao cimo do vulcão. E agora (perguntámos nós ao guia)? "Agora vamos descer da mesma maneira que subimos". O QUÊ? Se me custou a subir, como é que vou descer sem cair por ali abaixo? Só tivemos que ter cuidado no início devido às rochas, mas depois viemos a deslizar pela terra. Estão a ver os surfistas? Pronto, nós também parecíamos uns surfistas, só que em terra! Tal e qual, sem tirar nem pôr! Só faltava a prancha. Viemos a deslizar tanto que eu caí (sim, outra vez) e fui a escorregar e a comer areia durante uns 3 metros, que foi quando consegui parar...Como havia muita inclinação, era muito difícil parar. Não fui a única a cair, não pensem que sou uma desastrada que está sempre a cair e que não sabe onde mete os pézinhos!
Por fim chegamos à base do vulcão! FINALMENTE! Não tirei fotografias porque estava tão suja, tão cheia de areia que só conseguia pensar numa banheira com espuma e numa cama!
Depois de descermos e voltarmos ao centro de Chã, fomos numa pick-up até uma cidade algures na Ilha, para apanharmos outra carrinha e irmos então para São Filipe, onde íamos ficar novamente instaladas, dado que no dia seguinte íamos apanhar o voo para Praia.
Jantamos e provamos o gelado que eles comem imenso aqui. Um gelado que supostamente era de morango, mas também devia ter natas ou leite condensado algures misturado. Sim, está torto, não sei como ficam tão tortos, mas a verdade é que são tão bons!! Soube-me pela vidinha!
Estado: Hoje, terça-feira, estou TODA dorida, dói-me os músculos, apanhei um escaldão no pescoço, tenho bolhas nos pés, tenho as pernas arranhadas por ter caído, e só me apetece dormir durante dois dias seguidos! Estou cansada fisicamente mas sinto-me concretizada e muito bem psicologicamente!
Conclusão:
Sabem uma coisa? Foi das melhores e, ao mesmo tempo, das mais assustadoras experiências da minha vida! Nunca me irei esquecer do 15 de Maio!
Se me sinto orgulhosa? Muito! Superei medos e, acima de tudo superei-me a mim mesma!
Foi um desafio enorme e eu consegui superá-lo! Tive medo, pensei em coisas más, apeteceu-me desistir, mas chegar ao topo foi a melhor sensação! E depois pensei: a vida é assim, não é? Como um vulcão. Temos as nossas dificuldades, o nosso ritmo, temos de parar para ganhar forças, temos de ter vontade de continuar a subir, magoámo-nos mas temos de ter força para continuar, temos de puxar por nós próprios. Mas depois a recompensa é tão boa que pensar no percurso até dá vontade de rir. E tudo o que vem já é considerado fácil!
Beijinhos e uma excelente semana para vocês!
(QUINTA-FEIRA É FERIADOOOO, tomem!)
Quando saímos do barco, já só queria ver o vulcão! Mas já era de noite e lá não há muita luminosidade, inclusive na capital! Pessoas na rua? Uma ou outra... Fica tudo em casa!
Mal chegamos, fomos jantar e arranjar um quarto para dormir (sim, porque nós aventuramo-nos a ir para lá sem ter um quarto reservado. Fomos à malucas, pronto!). Mas a procura foi fácil e acabamos por ficar na Pousada da Bela Vista, na capital da ilha, São Filipe, terceira maior cidade de Cabo Verde.
Falando agora um bocado sobre esta ilha:
Inicialmente, esta ilha tinha o nome de São Filipe. Depois, devido a uma erupção de proporções devastadoras ficou designada como Ilha do Fogo.
De cor negra, quente e verde, a ilha que produziu, em tempos, algodão e café e, que a colocou nas rotas dos escravos, é agora terra do sabor e aroma únicos do vinho e do café.
Foi a segunda ilha a ser habitada e possui cerca de 40.000 habitantes.
A ilha do Fogo é composta por um vulcão ativo no meio do Atlântico cujo cume é o mais alto do arquipélago de Cabo Verde.
Dia 1:
Tínhamos decidido dar uma volta à ilha, por isso tínhamos já combinado com um taxista fazer uma tour pela ilha. Alugámos uma hyace e lá fomos. Estivemos primeiro a explorar a capital, São Filipe. É uma cidade mesmo bonita! Os edifícios são coloridos, as ruas estão limpas, há flores, consegue-se ver sempre o mar...é mesmo bonito!
Esta é a Igreja Matriz, um edifício de finais do século XIX, ao estilo colonial.
Fomos visitar o mercado da cidade, um sítio com bastante variedade, legumes, frutas, especiarias, carne, peixe, há de tudo.
Depois de visitar o mercado, fomos visitar as salinas. Apesar de ser um sítio muito bonito, aquilo de salinas não tinha nada! Vi só um bocadinho de sal! Nada comparado com a ilha do Maio.
Isto é o bocadinho de sal que eu consegui ver!
Seguimos caminho e fomos espreitar as plantações de café! O café é símbolo e cartão de identidade da ilha, pelo seu aroma e sabor. Eu e a Sofia Lima, as únicas que consumimos café em casa, compramos um saco de café moído para comprovarmos a sua autenticidade!
Aquelas bolinhas pretas são as sementes do café!
Tem também imensas bananeiras (aquilo que eu preciso MUITO, neste momento)!
De seguida paramos no Alto da Aguadinha, miradouro com uma vista espetacular da cidade de São Filipe.
Seguimos para Chã das Caldeiras, onde íamos ficar a dormir esta noite.
Chã das Caldeiras é conhecida localmente por Tchã e é a cratera inicial do vulcão! Sim, nós ficamos a dormir na cratera do vulcão!! A cratera é rodeada de paredes que atingem os 1000 metros. A fotografia mostra a enooorme parede!
Assustador mas encantador ao mesmo tempo! Agora chamam de Caldeira e são cerca de 1200 as pessoas que habitam neste cenário inóspito! Está ainda em processo de reconstrução porque, desde a última erupção, em 2014, foram imensas as casas destruídas pela lava. Casas, pousadas, a agricultura...
A partir de uma determinada altura, já era possível ver o vulcão, o enoooorme e imponente vulcão!
O caminho para Chã das Caldeiras torna-se íngreme muito rápido, contornando maciços de lava até desembocar no silêncio arrebatador da cratera.
A fotografia abaixo mostra a entrada para o Parque Natural do Fogo, entrada para a cratera original. Eu nunca vi nada mais bonito! O vulcão como fundo, o silêncio, a cor preta que predomina em todo o caminho, apenas com as vinhas a contrastar. Acreditem, aquele vulcão mete respeito!!
A primeira pergunta que surgiu: "Como raio vamos subir até lá cima?"
Aqui estão algumas fotos do caminho até ao centro de Chã, onde nós íamos ficar hospedados. Na fotografia abaixo podem ver o verde das vinhas a contrastar, e como plano de fundo as paredes da cratera inicial do vulcão.
Estas fotografias mostram a lava e a areia vulcânica da última erupção.
Dentro da cratera está localizada a Adega, onde se produz o vinho, mais conhecido como “Manecon”. É um dos produtos mais exportados da ilha para o exterior de Cabo Verde. Eu comprei duas garrafas de vinho. Um tinto seco e um tinto doce, para levar para Portugal!
Outro vinho bastante conhecido e produzido também na Ilha do Fogo é o Vinho Chã. Este vinho já se consegue ver em quase todas as prateleiras de supermercados e mini-mercados de Cabo Verde (pelo menos na Ilha de Santiago), ao contrário do Manecon.
Continuamos caminho para o centro de Chã das Caldeiras. O senhor Sicílio ou Cecílio (perceber os nomes das pessoas em Cabo Verde é quase uma missão impossível. Se uma pessoa se chama Odesângelo (conheço uma pessoa que tem este nome), chama-se Ângelo que ninguém repara que falta ali o Ode! É assim que eu faço!) estava à nossa espera. Ficamos na casa dele durante uma noite dado que no dia seguinte íamos acordar às 5h15 para começar a subida para o vulcão às 6h.
Quando finalmente chegamos, fomos muito bem recebidos. Os foguenses são de facto pessoas muito acolhedoras e simpáticas! Instalámo-nos e pousamos as nossas coisas nos quartos e o Senhor Cecílio mostrou-nos as redondezas de Chã. Levou-nos a uma casa que tinha sido invadida por lava! Ficamos chocados e impressionados com a sua força e destruição.
Ao espreitar pela janela conseguíamos ver a lava que tinha invadido uma divisão da casa.
No centro do Chã dava para ver também as casas e a escola submersas pela lava. Só conseguíamos ver os tetos. É impressionante! Agora estão a tentar desobstruir algumas casas que foram invadidas por lava. Partem a lava (a que dá para partir, porque há dois tipos de lava) e tentam limpar a casa para as tornar novamente habitáveis, dado que muitas dessas casas eram também o negócio de muitos habitantes.
Depois de nos mostrar e explicar o centro do Chã, levou-nos a um mini-mercado/casa de um senhor que nos ofereceu vinho Manecon, uvas passas feitas por ele e queijo próprio da Ilha. Ficamos até à hora de jantar porque é costume juntarem-se lá alguns habitantes a cantar e tocar até escurecer.
Perto das 19h30 fomos jantar. A família do senhor Cecílio fez o jantar. Peixe Serra com molho de natas, batata e cenoura cozida e arroz. Estava tão boooom!
Depois de jantar estivemos a jogar às cartas e fomos dormir que o dia seguinte ia ser muito puxado!
Foi a primeira vez que fui obrigada a enfrentar uma situação...falta de água e energia. Tínhamos de andar com os telemóveis atrás de nós para nos vestirmos, para irmos à casa de banho, tudo! E a casa de banho? O meu dilema: Como funciona o autoclismo? Pois...não funciona cara Mariana. Tudo à antiga! Mas foi bom, foi muito bom viver um dia assim porque uma pessoa apercebe-se de imensa coisa, a nossa mentalidade muda automaticamente. Nós temos imensa sorte no país onde estamos. Nós vivemos à grande e à franceses! Nós temos tuuuudo no nosso cantinho!! Não nos podemos mesmo queixar, de nada!!
Dia 2:
Acordamos às 5h15 com as galinhas (ou até antes das galinhas). Tomamos um pequeno-almoço bastante completo, com café, sumo, pão, bananas (que eu não comi porque estava demasiado madura. E se calhar foi por isso que fui a única a ter cãibras) para ficarmos com energia!
O Isandro, o nosso guia salvador, veio-nos buscar e começamos a nossa caminhada. Todas felizes e entusiasmadas (mal sabíamos o que nos esperava).
Estão a ver a base do vulcão? Pronto, a subir nem é muito inclinado (é muito para mim). Mal comecei a subir (nem 10 minutos tinham passado), e eu já estava a perguntar se ainda ia demorar muito, e o guia olhou para mim com olhar de pena e respondeu "Ainda nem começamos a base do vulcão"!
É preciso uma excelente condição física para começar a base do vulcão porque eu não achei piada nenhuma àquela caminhada! Na foto abaixo mostra a minha alta condição física, dado que estava em primeiro lugar! Os restantes tinham ficado para trás! Não, estou a mentir, pronto. Era a última, ficava sempre para último, mas foi porque não tinha comido a banana e os outros comeram...
O guia era o único que esperava por mim...coitadinho, queria andar e estava sempre à espera que eu decidisse pôr o turbo (coisa que não aconteceu).
O terreno era assim até ao início da 'cabeça' do vulcão (que era uma cabeça muito grande, não é como nas fotografias). Neste terreno ainda conseguia tirar umas fotografias. Quando começaram a vir as rochas já não conseguia pensar na câmara nem em tirar fotografias.
Foi aqui, neste terreno, que dei a minha primeira queda! Pensava que ia morrer!!!! Mas fiquei bem, foi só o susto...que foi grande o suficiente ao ponto de ficar ainda mais para trás!
PS: Aqueles pontinhos brancos ali na fotografia são os tetos das casas submersas que mostrei numa outra fotografia mais acima! Para vocês verem a distância que já tinha percorrido!
A paisagem é lindíssima e as nuvens são de cortar a respiração, por dois motivos: por saber que estávamos a uma altitude estonteante e isso metia medo, e porque vimos as nuvens de cima, coisa que eu nunca tinha visto e sempre quis saber como era!
Na fotografia acima, já conseguem ver os rochedos (a 'cabeça' do vulcão) que nós tínhamos de escalar, e dá para ter uma noção da altitude a que nos encontrávamos! A inclinação começava a ser cada vez maior. E não, não íamos pendurados por cordas nem nada semelhante. Íamos ali desprotegidos, apenas com a esperança de chegarmos à cratera sãos e salvos!
Durante a subida, tive cãibras, sentia dores em todos os sítios, estava tão cansada que obrigava toda a gente a parar e a descansar comigo. Mas depois o meu corpo habituou-se à subida e já não foi tão difícil (exeto as cãibras que continuaram a chatear).
Entretanto começamos a 'escalada' naquelas rochas enormes! Como são rochas de origem vulcânica, algumas são leves e, por isso tínhamos de ter imenso cuidado onde colocávamos os pés porque aconteceu-me imensas vezes pôr os pés em pedras leves e elas deslocarem-se, o que fazia com que eu escorregasse e automaticamente pensava "ok, vou morrer agora".
Tenho-vos a dizer que o Isandro, "O Guia", foi um anjo! Nem sei onde é que ele arranjou tanta paciência. Sim, porque a Sofia Lima tem vertigens e quando a inclinação aumentou, o guia não me tinha só a mim para aturar. Tinha duas! Era a Sofia de um lado a dizer "Não fuja de mim, tem de estar à minha beira, não dê mais do que dois passos" e eu do outro lado a dizer "Isaaaandroooo! Preciso de ajuda! Como é que subiu para aí? Por onde é que tenho de ir?". O rapaz nem sabia quem havia de ajudar primeiro.
Eu não tenho vertigens, mas só de olhar para baixo dava-me ali um arrepio que nem sabia onde me meter! Por várias vezes pensei "ok, vão vocês que eu fico aqui à espera e depois mandam um helicóptero para me vir buscar", mas o guia estava tão empenhado em nos ajudar a subir que até me sentia mal se desistisse. Para além do mais, ele disse assim "São muitas as pessoas que desistem de subir, ficam a meio" e nós "o quêê? Pffff, que fracos, nós não vamos desistir, vamos ver aquela cratera!".
Nós rezamos, nós invocamos o Nosso Senhor, nós gritamos, nós dissemos palavrões, mas não desistimos, é isso que importa!
Depois de muuuuito esforço e dedicação, lá chegamos ao cimo do vulcão!
Foram 2829 metros de cansaço e muuuito suor!
Pronto, lá conseguimos chegar ao cimo do vulcão. E agora (perguntámos nós ao guia)? "Agora vamos descer da mesma maneira que subimos". O QUÊ? Se me custou a subir, como é que vou descer sem cair por ali abaixo? Só tivemos que ter cuidado no início devido às rochas, mas depois viemos a deslizar pela terra. Estão a ver os surfistas? Pronto, nós também parecíamos uns surfistas, só que em terra! Tal e qual, sem tirar nem pôr! Só faltava a prancha. Viemos a deslizar tanto que eu caí (sim, outra vez) e fui a escorregar e a comer areia durante uns 3 metros, que foi quando consegui parar...Como havia muita inclinação, era muito difícil parar. Não fui a única a cair, não pensem que sou uma desastrada que está sempre a cair e que não sabe onde mete os pézinhos!
Por fim chegamos à base do vulcão! FINALMENTE! Não tirei fotografias porque estava tão suja, tão cheia de areia que só conseguia pensar numa banheira com espuma e numa cama!
Depois de descermos e voltarmos ao centro de Chã, fomos numa pick-up até uma cidade algures na Ilha, para apanharmos outra carrinha e irmos então para São Filipe, onde íamos ficar novamente instaladas, dado que no dia seguinte íamos apanhar o voo para Praia.
Jantamos e provamos o gelado que eles comem imenso aqui. Um gelado que supostamente era de morango, mas também devia ter natas ou leite condensado algures misturado. Sim, está torto, não sei como ficam tão tortos, mas a verdade é que são tão bons!! Soube-me pela vidinha!
Estado: Hoje, terça-feira, estou TODA dorida, dói-me os músculos, apanhei um escaldão no pescoço, tenho bolhas nos pés, tenho as pernas arranhadas por ter caído, e só me apetece dormir durante dois dias seguidos! Estou cansada fisicamente mas sinto-me concretizada e muito bem psicologicamente!
Conclusão:
Sabem uma coisa? Foi das melhores e, ao mesmo tempo, das mais assustadoras experiências da minha vida! Nunca me irei esquecer do 15 de Maio!
Se me sinto orgulhosa? Muito! Superei medos e, acima de tudo superei-me a mim mesma!
Foi um desafio enorme e eu consegui superá-lo! Tive medo, pensei em coisas más, apeteceu-me desistir, mas chegar ao topo foi a melhor sensação! E depois pensei: a vida é assim, não é? Como um vulcão. Temos as nossas dificuldades, o nosso ritmo, temos de parar para ganhar forças, temos de ter vontade de continuar a subir, magoámo-nos mas temos de ter força para continuar, temos de puxar por nós próprios. Mas depois a recompensa é tão boa que pensar no percurso até dá vontade de rir. E tudo o que vem já é considerado fácil!
Beijinhos e uma excelente semana para vocês!
(QUINTA-FEIRA É FERIADOOOO, tomem!)
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